quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Caminhantes Constantes.

Seus passos eram lentos e soltos, em meio à rua às seis horas da tarde onde a multidão se tornava uma pessoa só. Mas ele é diferente, com cabeça erguida e olhar sempre pra frente, o violão apoiado nos ombros, a mochila atrapalhando a confusão que aquela pessoa chamada Multidão teimava em formar,
as células lutando e se comprimindo, pareciam bonecos de papel amassados em origamis mal feitos e emburrados, pois mais um dia se chegava ao fim. 
É compreensível que as pessoas queiram silêncio e estava carrancudas por virem de trabalhos chatos que muitas células lutavam sem ter gosto de ir e fazer, mas ele não ligava pra isso. Ele não tinha ética, ele não tinha moral... Andava sem cueca, que coisa horrível ! A bota no pé mostrava o tamanho do seu poder imaginativo, o violão nas costas era um fardo artístico que seu coração o fazia carregar, e no meio da Sé a pedido de um amigo vindo de São Tomé eles iam brindar à vida, por tentarem não serem mais uma parte daquele corpo, que era a Multidão. 
Eles queriam representar a doença, a escoria que é trazida pra quem diz que prática a Meditação. Mas não aquela que você senta com postura ereta e diz que se iluminou na Sociedade do Oriente, se tornando um ser iluminando com discursos incoerentes. A meditação era ser humano, como um estado de nirvana em meio ao contexto social com nova ética e quase sem moral. 
Em meio à brindes e cerveja, a música sai e a prosa se cria, a fumaça do cigarro cria uma nova neblina em volta deles como se fossem criaturas de um plano extra visual, seres de outros planetas, carregados de irônia   e força de vontade de serem ouvidos pelas idéias mais malucas que juntos podiam produzir,
em meio à Sé podia-se ouvir a Multidão, mais uma vez com idéias semi-mortas passando como rajadas de ventos em um Deserto em busca de um movimento do prazer. 



O caminhante de passos lentos foi questionado de quem era e porque ser vestia assim, sem cueca e calças largas com blusas transpassadas e a barba mais longa que seus braços no chão não podiam tocar. Foi quando ele respondeu: '' Eu sou o que preciso ser, dum filha da puta à um burgues refinado. A minha metamorfose é ambulante, porque tenho consciência que sou diferente de tudo e todos muito inconstante. Tão inconstante que sou, até, igual. '' Virou a cerveja no copo e deu risada, e seu amigo de São Tomé riu mais alto gritando: '' Viva a loucura ! Ha ha ha ha... '' 
Em tempos modernos, o hippie já morreu, dando espaço pra outros loucos tentarem viver de sonhos. Porque pra sonhar é preciso imaginar, e como Pinsky disse uma vez: '' Historiador/professor sem utopia é cronista, e sem conteúdo, nem cronista pode ser'' é preciso dum sonho em constante movimentação. Onde todos são professores e alunos, buscando uma luz. 
E assim a Multidão passava e cada célula desse sistema que movimenta um Mundo vai enegrecendo e se tornando um vírus lá no fundo, bem no interior.
A loucura das pessoas se inflamam, até que um dia,
sejam mais livres que seus pais,
ou até mesmo  que o jovem que sonhava no bar, com passos lentos e soltos, que andava sem cueca em São Paulo capital.
E ele continua viajando, ainda sem rumo, sem saber por onde ir. 
Só sabe que a vida é curta de mais,
é preciso se divertir, criar uma nova ética e uma nova moral, pois o dinheiro criou o novo Sistema.
Um Sistema Canibal. 


2 comentários:

  1. Texto muito bom, senti inclusive uma auto-definição de si mesmo.
    Parabéns velhão. Nunca se esqueça, "cada um de nós é um universo", como diria o grande Raul Santos Seixas.

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  2. MuitoOoOo bom!!!!
    Definição perfeita de uma tarde , em dia de semana, no centro de São Paulo, aonde todos estão perdidos em suas obrigações e irritações e uma pessoa(vc) para TUDO!!! pra ser apenas você !!! (:

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